É com muita alegria e satisfação que apresento a vocês o meu Blog " Enfermagem a Arte de Cuidar."
Trata-se de um Blog voltado para todos os profissionais da área da enfermagem, mas principalmente para quem está começando os estudos de enfermagem.
Meu objetivo é compartilhar com vocês conhecimentos, ideias e discutir diversos temas da nossa área de atuação.
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que provoca o declínio das
funções intelectuais, reduzindo as capacidades de trabalho e relação social e
interferindo no comportamento e na personalidade.
Histórico
da Doença:
Já naAntiguidade clássicaos médicos e
filósofosgregoseromanosassociavam
a progressão dademênciaà
idade avançada.No entanto, só em
1901 é que opsiquiatraalemãoAlois Alzheimeridentificou pela primeira vez um caso
da patologia que viria a ser denominada doença de Alzheimer, numa mulher de
cinquenta anos a que chamavaAuguste
D. O médico seguiu a paciente até à sua morte, em 1906, data em que
publicou o primeiro relatório sobre o caso.Durante
os cinco anos seguintes, foram reportados na literatura médica onze casos semelhantes,
alguns dos quais referindo-se já à doença pelo termo Alzheimer.A doença foi pela primeira vez
descrita enquanto condição autônoma porEmil Kraepelin, depois de ter suprimido
algumas das características clínicas (alucinações) e patológicas (alterações arterioscleróticas) do relatório original de Auguste D. Kraepelin incluiu a
doença de Alzheimer, também denominada por si "demência pré-senil",
na oitava edição do seuManual
de Psiquiatria, publicado em 15 de julho de 1910.
Durante a maior parte doséculo XX, o diagnóstico de Alzheimer
era reservado para indivíduos entre os 45 e 65 anos de idade que desenvolviam
sintomas dedemência. No entanto, esta terminologia foi
alterada em 1977 após numa conferência se ter concluído que as manifestações
patológicas da demência senil e pré-senil eram praticamente idênticas, embora
os autores também tenham acrescentado que isto não excluía a hipótese de terem
diferentes causas.Isto levou a
que o diagnóstico de Alzheimer se tornasse independente da idade.Durante algum tempo usou-se o termo
"demência senil do tipo Alzheimer" para descrever a condição em
pacientes com idade superior a 65 anos, enquanto que o termo "doença de
Alzheimer" era usado para as pessoas com idade inferior. Eventualmente, o
termo "doença de Alzheimer" foi adotado pela nomenclatura clínica
para descrever indivíduos de todas as idades com um quadro de sintomas,
evolução eneuropatologia em comum.
Causas:
A causa da doença é desconhecida.
Fatores
Predisponentes:
èIdade:Embora existam casos esporádicos em pessoas
de 50 anos e a prevalência na faixa etária de 60 a 65 anos esteja abaixo
de 1%, a partir dos 65 anos ela praticamente duplica a cada cinco anos.
Depois dos 85 anos de idade, atinge 30 a 40% da população.
èHistória familiar:O risco é mais alto em pessoas que têm
história familiar de Alzheimer ou outras demências. Estudo conduzido na
Suécia entre 65 pares de irmãos gêmeos mostrou que quando um deles
apresentava Alzheimer, o irmão gêmeo idêntico era atingido pela doença em
67% dos casos; o gêmeo diferente, em 22%.
èSíndrome de Down:Em portadores da síndrome de Down
a doença surge com frequência mais alta e as alterações neuropatológicas
se instalam mais precocemente.
èApolipoproteína E:Além de outras funções, o colesterol é necessário
para a integridade da bainha de mielina que envolve as raízes nervosas. A
apolipoproteína é uma proteína presente na circulação, importante no
transporte de colesterol no sistema nervoso central. Indivíduos em que essa
proteína possui determinadas características genéticas têm probabilidade
mais alta de desenvolver Alzheimer.
èSexo:Parece haver pequeno predomínio da doença
entre as mulheres. Para quem chegou aos 65 anos, o risco futuro de surgir
Alzheimer é de 12% a 19% no sexo feminino; e de 6% a 10% nos homens.
èTrauma Craniano:Boxeadores e pessoas
que sofreram traumas cranianos parecem mais sujeitos à enfermidade, embora
nem todos os estudos comprovem essa relação.
A doença de Alzheimer é caracterizada
pela perda de neurônios e sinapses no córtex
cerebral e em determinadas áreas subcorticais. Esta perda
provoca a atrofia das
áreas afetadas, incluindo degeneração no lobo temporal,
no lobo parietal e em partes do lobo frontal e
do giro do cíngulo. A degeneração ocorre
também nos núcleos do tronco
cerebral, como o cerúleo. Os
estudos com IRM e TEP documentam diminuições
no tamanho de determinadas áreas do cérebro à medida que a doença evolui de
déficit cognitivo ligeiro para Alzheimer, em comparação com imagens semelhantes
de idosos saudáveis.
Tanto as placas
amiloides como os novelos neurofibrilares são
claramente observáveis ao microscópio no
cérebro de pessoas com Alzheimer. As placas são depósitos densos e
praticamente insolúveis de peptídeos beta-amiloides
e material celular no exterior e em redor dos neurônios. Os novelos são
agregados de proteína tau associada aos microtúbulos que
se tornou hiperfosforilada e se acumulou no próprio interior das células.
Embora alguns idosos possam desenvolver placas e novelos devido ao processo de
envelhecimento, o cérebro de pessoas com Alzheimer apresenta um número muito
superior em áreas específicas, como no lobo temporal. Os corpos de
Lewy não são incomuns em pessoas com Alzheimer.
2-
Bioquímica
A doença de Alzheimer é uma proteopatia,
ou seja, uma doença caracterizada por anomalias no enovelamento de proteínas. É causada pela
acumulação no cérebro de placas de proteínas beta amiloide e tau de
enovelamento anômalo. As placas são constituídas por pequenos peptídeos com
39-43 aminoácidos de comprimento, denominados beta amiloides (Aβ).
Os beta amiloides são fragmentos de uma proteína maior denominada proteína precursora de amiloide (APP),
uma proteína transmembranar que penetra a
membrana dos neurônios. A APP é essencial para o crescimento, sobrevivência e
reparação de lesões dos neurônios. Na doença de Alzheimer existe um processo
desconhecido que faz com que a APP se divida em fragmentos menores de enzimasB
através de proteólise. Um destes fragmentos dá origem a fibrilos de beta
amiloide, que formam grupos que se depositam no exterior dos neurônios em formações
densas conhecidas como placas senis.
A doença de Alzheimer também é
considerada uma taupatia devido à agregação anormal de proteína tau.
Cada neurônio tem um citoesqueleto, uma estrutura interna de suporte
constituída parcialmente por estruturas denominadas microtúbulos.
Estes microtúbulos atuam como carris, orientando os nutrientes e as moléculas
do corpo das células para as extremidades dos axônios e
vice-versa. A proteína tau estabiliza os microtúbulos quando fosforilada,
pelo que é denominada proteína associada aos microtúbulos. Na doença de
Alzheimer, a proteína tau sofre alterações químicas, tornando-se
hiperfosforilada, e começa a associar-se com outros novelos, cria novelos
neurofibrilares e desintegra o sistema de transporte dos neurônios.
Quadro
Clínico:
A doença de Alzheimer evolui de forma única em cada pessoa, embora
existam sintomas em comum; por exemplo, o sintoma inicial mais comum é a perda
dememória. Muitas vezes, os primeiros sintomas da doença são
confundidos com os processos normais de envelhecimento ou stress. Quando se
suspeita de Alzheimer, o paciente é submetido a uma série de testes cognitivos
e radiológicos para confirmar o diagnóstico. Com o avançar da doença vão aparecendo
novos sintomas comoconfusão mental, irritabilidade e agressividade, alterações de humor,
falhas na linguagem, perda de memória a longo prazo e o paciente começa a
desligar-se da realidade. Antes de se tornar totalmente aparente, a doença de
Alzheimer evolui ao longo de um período indeterminado de tempo e pode manter-se
assintomática durante anos.A
evolução da doença pode ser dividida em quatro fases:
Estágios da doença de Alzheimer
Efeitos do
envelhecimento na memória, mas que não são Alzheimer
·Esquecer-se
ocasionalmente das coisas;
·Perder
ocasionalmente objetos;
·Pequenas
perdas dememória em
curto prazo;
·Esquecer-se
que ocorreram lapsos de memória.
Estágio inicial de Alzheimer
·Estado
de distração ou falta de atenção;
·Esquecer-se
de compromissos;
·Pequenas
alterações notadas por familiares próximos;
·Alguma
confusão em ambientes que não sejam familiares;
Estágio intermédio de Alzheimer
• Dificuldade acrescida em recordar informações
recentes;
• Confusão crescente num número maior
de situações;
Não
existe um exame específico que estabeleça odiagnóstico. A suspeita diagnóstica deve ser feita por
meio de uma cuidadosa história clínica que leve em conta ossintomase a evolução da doença.
A certeza do
diagnóstico só pode ser obtida por meio do exame microscópico do tecido
cerebral do doente após seu falecimento. Antes disso, esse exame não é
indicado, por apresentar riscos ao paciente. Na prática, o diagnóstico da
Doença de Alzheimer é clínico, isto é, depende da avaliação feita por um médico,
que irá definir, a partir de exames e da história do paciente, qual a principal
hipótese para a causa da demência.
Exames de sangue e de
imagem, como tomografia ou, preferencialmente, ressonância magnética do crânio,
devem ser realizados para excluir a possibilidade de outras doenças.
Faz parte da bateria
de exames complementares uma avaliação aprofundada das funções cognitivas. A
avaliação neuropsicológica envolve o uso de testes psicológicos para a
verificação do funcionamento cognitivo em várias esferas. Os resultados,
associados a dados da história e da observação do comportamento do paciente,
permitem identificar a intensidade das perdas em relação ao nível prévio, e o
perfil de funcionamento permite a indicação de hipóteses sobre a presença da doença.
O mapeamento pode ser
útil ainda para a programação do tratamento de estimulação cognitiva, que
considera as habilidades que merecem investimentos para serem preservadas e
aquelas que precisam ser compensadas.
Uma novidade nas
pesquisas científicas é a análise de biomarcadores de beta-amiloide (das placas
senis) e de proteína tau (dos emaranhados neurofibrilares) que estão sendo
estudados para auxiliar no diagnóstico preciso da Doença de Alzheimer. Porém,
essa análise ainda não é indicada para a prática clínica. Por enquanto,
ela está restrita a pesquisas. No campo das pesquisas na área da genética,
sabe-se que alguns genes estão relacionados a maior risco de desenvolvimento da
doença.
O
diagnóstico da Doença de Alzheimer continua sendo clínico, mas a diferença
verificada desde o início da atual década foi a constatação de que marcadores
biológicos podem auxiliar a tornar o diagnóstico da DA mais preciso. Os
marcadores biológicos que passam a fazer parte da investigação clínica são o
beta-amiloide e a proteína fosfo-tau. A proteína beta-amiloide, como se sabe, é
acumulada nas placas senis, um dos marcos patológicos da doença. Essa proteína
é produzida normalmente no cérebro e há evidências de que quantidades muito
pequenas dela são necessárias para manter os neurônios viáveis. O problema na
DA é que sua produção aumenta muito e moléculas acumulam-se como oligômeros,
levando à alteração nas sinapses, o primeiro passo para a série de eventos que
leva à perda de neurônios e aos sintomas da doença.
Normalmente,
a beta-amiloide é eliminada pelo liquor, mas na DA sua acumulação no cérebro
faz com que sua concentração no liquor caia. Simultaneamente, ocorre
fosforilação da proteína tau, que forma os emaranhados neurofibrilares dentro
dos neurônios, que é outra alteração patológica conhecida da DA. Com a morte
neuronal, a fosfo-tau é eliminada pelo liquor, aumentando sua concentração.
Dessa forma, na DA ocorre diminuição da concentração de beta-amiloide e aumento
da concentração de fosfo-tau no liquor.
É
necessário ter em mente algumas implicações desse exame:
·A
alteração das concentrações de marcadores por si não garante o diagnóstico de
DA, que deve ter a correlação com sintomas clínicos.
·Essas
alterações podem ser úteis no diagnóstico diferencial entre DA e outras
demências, quando o que ocorre com frequência é a superposição de sintomas.
Com
os marcadores biológicos, é possível fazer o diagnóstico da doença prodrômica,
isto é, de pessoas com queixa e dificuldade objetivamente verificadas, mas que
não preenchem os critérios para o diagnóstico de demência como, por exemplo, as
que não têm prejuízo em suas atividades. Pessoas com doença prodrômica têm
chance muito elevada de vir a desenvolver a demência da DA.
Essa
mudança nos paradigmas do diagnóstico levou também a uma mudança na busca de
novos tratamentos, que agora são dirigidos para a produção e agregação de
moléculas de beta-amiloide e para a inibição da produção de fosfo-tau.
A
Doença de Alzheimer antes dos sintomas
Os
marcadores biológicos e os estudos sistemáticos do cérebro deixaram claro que,
por um período de 15 a 20 anos, estão acontecendo alterações no cérebro antes
do diagnóstico da demência da Doença de Alzheimer, ainda que seja em sua fase
inicial. Assim, poderíamos falar em:
·Envelhecimento
normal:
não há alterações clínicas ou queixa de mau funcionamento cognitivo. Perdas
referentes ao processo de envelhecimento envolvem principalmente alterações
físicas e sensoriais.
·Doença pré-clínica: as pessoas não
apresentam alteração clínica alguma e sua avaliação clínica será normal, exceto
no final desta fase, quando testes de memória e de outras áreas da cognição
podem mostrar alterações muito sutis. Por outro lado, verifica-se uma mudança
nos marcadores biológicos, com queda na concentração de beta-amiloide e aumento
na concentração de fosfo-tau. Exame de ressonância com marcador para
beta-amiloide mostrará que esta substância está se acumulando no cérebro. A não
ser por esses exames especiais, e que ainda estão disponíveis em poucos
lugares, não se pode fazer o diagnóstico de doença pré-clínica.
·Doença prodrômica: aqui começam as
queixas de memória, que se tornarão mais acentuadas ao longo do tempo. A
avaliação clínica mostra objetivamente que há alteração, a mais comum sendo nos
testes de memória. Nesta fase, a ressonância com marcador para beta-amiloide
mostra maior acúmulo e a ressonância convencional começa a mostrar atrofia
cerebral, particularmente para os hipocampos, que constituem uma área central
da memória. Nesta fase, as pessoas continuam com suas atividades e, portanto,
não se pode falar em demência, apesar de no final desta fase manter as
atividades, principalmente as mais complexas, que requerem mais memória e
planejamento, como gerenciar finanças ou planejar viagens, que exigem um
esforço maior. Para essas pessoas, portanto, o diagnóstico pode ser feito pelo
exame clínico, ajudado pelo exame de liquor e pela ressonância de cérebro.
·Demência da Doença de
Alzheimer:
a DA, como a conhecemos, envolve perdas significativas de capacidades com
interferência nas atividades cotidianas.
Nesse
sentido, as mudanças previsíveis para diagnóstico e tratamento da DA serão:
·O
diagnóstico será mais precoce, preferencialmente na fase prodrômica.
·O
tratamento será mais precoce, preferencialmente na fase prodrômica.
Caso
se chegue de fato a medicações mais eficientes, então a perspectiva para as
pessoas com DA mudará radicalmente.
Tratamento:
Até o momento, não existe cura para a
Doença de Alzheimer. Os avanços da medicina têm permitido que os pacientes
tenham uma sobrevida maior e uma qualidade de vida melhor, mesmo na fase grave
da doença.
As pesquisas têm progredido na compreensão
dos mecanismos que causam a doença e no desenvolvimento das drogas para o
tratamento. Os objetivos dos tratamentos são aliviar os sintomas existentes,
estabilizando-os ou, ao menos, permitindo que boa parte dos pacientes tenha uma
progressão mais lenta da doença, conseguindo manter-se independentes nas
atividades da vida diária por mais tempo. Os tratamentos indicados podem ser
divididos em farmacológico e não farmacológico.
Tratamento farmacológico
Na Doença de Alzheimer, acredita-se
que parte dos sintomas decorra de alterações em uma substância presente no
cérebro chamada de acetilcolina, que se encontra reduzida em pacientes com a
doença. Um modo possível de tratar a doença é utilizar medicações que inibam a
degradação dessa substância.
A primeira medicação, testada há mais
de 30 anos, foi a fisostigmina, que apesar de proporcionar melhora da memória
foi inutilizada por provocar muitos efeitos colaterais.
A primeira droga utilizada em larga
escala e aprovada pela agências reguladoras, em 1993, foi a tacrina. Porém,
essa medicação caiu em desuso com o advento de novas medicações, pela
dificuldade na administração e pelo risco de complicações e efeitos adversos.
As medicações que atuam na
acetilcolina, e que estão aprovadas para uso no Brasil nos casos de demências
leves e moderadas, são a rivastigmina, a donepezila e a galantamina (conhecidas
como inibidores da acetilcolinesterase ou anticolinesterásicos).
As vantagens e as desvantagens de cada
medicação e o modo de administração devem ser discutidas com o médico que
acompanha o paciente. Teoricamente, a resposta esperada com o uso dessas
medicações é uma melhora inicial dos sintomas, que será perdida com a
progressão da doença, mas há evidências de que essas drogas podem estabilizar
parcialmente essa progressão, de modo que a evolução torne-se mais lenta. Os
efeitos positivos, que visam à melhoria ou à estabilização, foram demonstrados
para a cognição, o comportamento e a funcionalidade. A resposta ao tratamento é
individual e muito variada.
A memantina é outra medicação aprovada
para o tratamento da demência da Doença de Alzheimer. Ela atua reduzindo um
mecanismo específico de toxicidade das células cerebrais. É possível também que
facilite a neurotransmissão e a neuroplasticidade. O uso da memantina,
isoladamente ou associada aos anticolinesterásicos, é indicado no tratamento
das pessoas com Doença de Alzheimer nas fases moderada a grave.
Para o tratamento da demência da
Doença de Alzheimer nas fases leve a moderada, até o momento, a memantina tem
demonstrado resultados conflitantes entre os estudos. Portanto, não há respaldo
na literatura científica para o uso da memantina nos estágios iniciais da
Doença de Alzheimer.
Os sintomas comportamentais e
psicológicos podem ser tratadas com medicações específicas e controladas.
Muitas medicações, com expectativa de bons resultados, podem ser indicadas para
o tratamento e o controle de agitação, agressividade, alterações do sono,
depressão, ansiedade, apatia, delírios e alucinações.
É importante que doses e horários das
medicações prescritas sejam seguidas com rigor. Alterações ou reações não
esperadas devem ser comunicadas ao médico responsável pelo tratamento, para
possíveis ajustes. É terminantemente desaconselhável que pacientes ou
familiares testem modificações, sob risco de efeitos indesejáveis e prejuízo no
controle de sintomas.
Outras medicações e substâncias
Não são incomuns prescrições de outras
substâncias e medicações para o tratamento da demência da Doença de Alzheimer.
As evidências, até o momento, são de ineficácia do tratamento com ginkgo
biloba, selegilina, vitamina E, Ômega 3, redutores da homocisteína, estrogênio,
anti-inflamatórios e estatina. Sendo assim, o uso dessas substâncias e
medicações, com fim específico de tratamento para a demência, não é recomendado.
Tratamento não farmacológico
Há evidências científicas que indicam
que atividades de estimulação cognitiva, social e física beneficiam a
manutenção de habilidades preservadas e favorecem a funcionalidade.
O treinamento das funções cognitivas
como atenção, memória, linguagem, orientação e a utilização de estratégias
compensatórias são muito úteis para investimento em qualidade de vida e para
estimulação cognitiva.
Pacientes mais ativos utilizam o
cérebro de maneira mais ampla e frequente e sentem-se mais seguros e confiantes
quando submetidos a tarefas prazerosas e alcançáveis. A seleção, frequência e
distribuição de tarefas deve ser criteriosa e, preferencialmente, orientada por
profissionais.
Com o intuito de auxiliar os
pacientes, algumas famílias ou cuidadores tendem a sobrecarregá-los com
atividades que julgam poder ajudar no tratamento, desfavorecendo resultados e
correndo o risco de criar resistência ou de tornar o ambiente tenso.
A qualidade e a quantidade de
estímulos devem ser monitoradas e avaliadas a partir da resposta dos pacientes.
É de fundamental importância para a adesão às propostas que essas atividades
sejam agradáveis e compatíveis com as capacidades dos pacientes.
O intuito dos tratamentos não
farmacológicos não é fazer com que a pessoa com demência volte a funcionar como
antes da instalação da doença, mas que funcione o melhor possível a partir de
novos e evolutivos parâmetros.
Quando estimulados e submetidos a atividades
que conseguem realizar, os pacientes apresentam ganho de autoestima e
iniciativa, e assim tendem a otimizar o uso das funções ainda preservadas.
As intervenções oferecidas podem ser
de três áreas diversas. Quando combinadas, podem obter melhores resultados.
Embora sejam importantes, sugere-se cautela na oferta de tratamento com
intervalo entre atividades.
1. Estimulação cognitiva
Consiste em atividades ou programas de intervenção que visam a potencializar as
habilidades cognitivas mediante a estimulação sistemática e continuada em
situações práticas que requerem o uso de pensamento, raciocínio lógico,
atenção, memória, linguagem e planejamento.
O objetivo geral desse tipo de
estimulação é minimizar as dificuldades dos pacientes a partir de estratégias
compensatórias, para que possam fazer uso de recursos intelectuais presentes de
maneira consistente. Podem ser feitas atividades grupais ou individuais. Em
ambos os casos, deve-se atentar para as necessidades dos pacientes, para
situações do dia a dia que promovam autonomia e capacidade decisória, a partir
de novas estratégias, para o cumprimento de tarefas.
Durante as atividades são utilizadas
técnicas que resgatam memória antiga, exploram alternativas de aprendizado,
promovem associação de ideias, exigem raciocínio e atenção dirigida, favorecem
planejamento com sequenciamento em etapas e antecipação de resultados e consequências,
proporcionam treino de funções motoras e oferecem controle comportamental
relacionado aos impulsos e reações.
Pode ser praticada em tarefas variadas
como jogos, desafios mentais, treinos específicos, construções, reflexões,
resgate de histórias e uso de materiais que compensem dificuldades específicas
(por exemplo, calendário para problemas de orientação temporal).
2. Estimulação social
São iniciativas que priorizam o contato social dos pacientes estimulando as
habilidades de comunicação, convivência e afeto, promovendo integração e
evitando a apatia e a inatividade diante de dificuldades. Além de intervenções
em grupo para estimulação cognitiva e física, podem ser realizadas atividades
de lazer, culturais, celebração de datas importantes e festivas. É essencial
que sejam organizadas a partir das experiências anteriores do paciente e que
envolvam temas que despertem seu interesse e motivação. Lugares muito
movimentados e com muitas pessoas podem dificultar o aproveitamento dos
pacientes, pois estímulos simultâneos podem deixá-los confusos. Sugere-se que a
família observe o comportamento de pacientes em situações sociais e que
verifique se estão à vontade e aproveitando. Caso o idoso com Alzheimer tenha
dificuldade em acompanhar conversas paralelas ou fique agitado com a
movimentação, a conduta deve ser a de tornar o ambiente mais propício para ele,
com menos estímulos simultâneos. Nesse caso, não há necessidade de cancelar compromissos,
mas de proporcionar ambiente mais calmo e com menos pessoas a cada encontro.
Para o idoso, o contato com a família
tende a ser a principal fonte de convívio e satisfação a partir de interação
social. Diante das dificuldades dos idosos com Alzheimer, pode parecer que as
alternativas de contato fiquem limitadas a ponto de inviabilizar o
relacionamento. Isso não é verdade. Há muitas maneiras de relacionamento de
qualidade com alcance mútuo de satisfação: resgatar histórias antigas,
especialmente envolvendo lembranças agradáveis e que tenham relevância
familiar, contato físico e afetuoso bem como acompanhamento de rotina e
atividades diárias. São esses os tipos de tarefas que o paciente tende a ficar
mais à vontade e aproveitar melhor o momento de encontro com familiares.
3. Estimulação física
A prática de atividade física e de fisioterapia oferece benefícios neurológicos
e melhora na coordenação, força muscular, equilíbrio e flexibilidade. Contribui
para o ganho de independência, favorece a percepção sensorial, além de retardar
o declínio funcional nas atividades de vida diária. Alguns estudos mostram que
atividades regulares estão associadas a evolução mais lenta da Doença de Alzheimer.
Além de alongamentos, podem ser indicados exercícios para fortalecimento
muscular e exercícios aeróbicos moderados, sob orientação e com acompanhamento
dirigido.
4. Organização do ambiente
O ambiente da pessoa com Doença de Alzheimer influencia seu humor, sua relação com
as pessoas e até sua capacidade cognitiva. Diante de situações agitadas ou
desorganizadas, pode haver uma tendência à confusão mental que prejudica o
funcionamento de modo geral. Por isso, oferecer ambiente adequado pode ser uma
forma de minimizar sintomas, bem como favorecer a qualidade de vida.
Organizar o ambiente tem como objetivo
inibir ou controlar as manifestações de sintomas comportamentais como ansiedade
e agitação, delírios e alucinações e inadequações sociais. O ambiente deve ser
tranquilo, com situações previsíveis, evitando características que possam ser
interpretadas como ameaçadoras. Sugere-se utilizar tom de voz ameno e evitar
confrontos e conflitos desnecessários, repetitivos e duradouros, diminuir e
evitar barulhos e ruídos, amenizar estímulos luminosos muito intensos, deixar o
ambiente claro, limpo e organizado, estabelecer uma rotina estável e
simplificada.
5. Tratamentos específicos para
problemas específicos
Nos estágios iniciais da Doença de Alzheimer são esperadas reações emocionais
negativas, assim como dificuldade de adaptação a mudanças, com prejuízos
sociais progressivos. Lidar com as perdas associadas ao processo de adoecimento
envolve o confronto com déficits e, consequentemente, com frustrações. Nessa
etapa da doença, é esperado que o paciente identifique, pelo menos
parcialmente, os prejuízos e tente evitá-los. Por isso, pode acontecer de ficar
menos motivado para atividades e encontros sociais.
Em fases mais avançadas da doença, em
que os sintomas passam a ser mais evidentes, o confronto com prejuízos que
interferem na autonomia é mais presente. Alguns pacientes podem precisar de
monitoramento constante, para evitar exposição a situações de risco. Em algumas
famílias, pode ser necessário o auxílio de cuidadores profissionais ou de mais
integrantes na equipe de cuidados.
Além de auxílio dos cuidadores, podem
ser necessários tratamentos específicos, envolvendo a busca pela minimização de
dificuldades que passam a interferir nas atividades diárias. Os tratamentos
mais frequentes são os que requerem estímulo à locomoção e motricidade,
deglutição, comunicação e nutrição.
A cada etapa da doença, profissionais
especializados podem ser indicados para minimizar problemas e orientar a
família, com o objetivo de favorecer a superação de perdas e enfrentar o
processo de adoecimento, mantendo a qualidade de contato e relacionamento.
Muitos são os profissionais que cuidam de pessoas com Doença de Alzheimer. Além
de médicos (geralmente neurologistas, geriatras, psiquiatras ou clínicos
gerais), há a atuação de outros profissionais de saúde: psicólogos,
enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas,
nutricionistas, educadores, educadores físicos, assistentes sociais e dentistas.
Assistência
de Enfermagem
Cuidar de
uma pessoa portadora de DA pode ser difícil em alguns momentos. Requer
principalmente amor, solidariedade e tudo que estas duas palavras englobam:
paciência, dedicação e, sobretudo, uma assistência que merece a divisão de
tarefas entre os familiares, visto que os cuidados exigem atenção diuturna,
gerando grande desgaste físico e emocional para aqueles que lidam diretamente
com o portador.
Para facilitar no cuidado de
enfermagem é necessário estabelecer algumas rotinas para o portador da DA, tais
como:
• Estabeleça rotinas, mas mantenha a normalidade: uma rotina pode facilitar as
atividades que você deverá fazer e, ao mesmo tempo, estruturar um novo sistema
de vida. A rotina pode representar segurança para o portador; porém, embora ela
possa ajudar, é importante manter a normalidade da vida familiar; procure
tratar o portador da mesma forma como o tratava antes da doença; • Incentive a independência: é necessário que
o portador receba estímulos à sua independência. Faça com ele e não por ele,
respeite e preserve sua capacidade atual de realizar atividades de vida diária.
Supervisione, auxilie e faça por ele apenas quando não houver nenhuma
capacidade para execução de determinada tarefa. Isto o ajudará a manter a autoestima,
o respeito próprio e, consequentemente, diminuirá a ansiedade do familiar; • Ajude o portador a manter sua
dignidade: lembre-se que a pessoa de quem você cuida é ainda um indivíduo
com sentimentos. O que você ou outros familiares fazem ou falam em sua presença
pode perturbá-lo. Evite discutir sobre as condições do portador na sua
presença; • Evite confrontos: qualquer tipo de
conflito pode causar estresse desnecessário em você e/ou no portador. Evite
chamar atenção e mantenha a calma de maneira que a situação não piore.
Lembre-se que por mais que pareça proposital, é a doença que ocasiona momentos
de agitação, agressividade, etc. NÃO é culpa do portador. Tente identificar
qual ou quais fatores podem ser responsáveis pela alteração apresentada e, a
partir daí, trabalhe para eliminá-los; • Faça perguntas simples: mantenha
uma conversa simples, sem incluir vários pensamentos, ideias ou escolhas; as
perguntas devem possibilitar respostas como “sim” ou “não”; perguntar “você
quer laranja?” é melhor do que “que fruta você gostaria de comer?”. • Mantenha seu senso de humor:
procure rir com (e não rir do) o portador de DA. Algumas situações podem
parecer engraçadas para você, mas não são para ele. Mantenha um humor saudável
e respeitoso, ele ajuda a diminuir o estresse. • Torne a casa segura: a dificuldade
motora e a perda de memória podem aumentar a possibilidade de quedas. Por isso,
você deve trazer o máximo de segurança para sua casa: verifique tapetes, mesas
de centro, móveis com quina, objetos de decoração, escadas, banheiras, janelas,
piscinas. • Encoraje o exercício e a saúde física:
em alguns casos, o exercício físico pode colaborar para que o portador mantenha
suas habilidades físicas e mentais por um tempo maior. O exercício apropriado
depende da condição de cada pessoa. Consulte o médico para melhores
informações. • Ajude a manter as habilidades
pessoais: algumas atividades podem incentivar a dignidade e o respeito
próprio, dando propósito e significado à vida. Uma pessoa que antes foi uma
dona de casa, um motorista, um professor ou um executivo pode ter maior
satisfação usando algumas das habilidades relacionadas ao seu serviço anterior.
Lembre-se, entretanto, que a DA é progressiva e os gostos ou habilidades das
pessoas acometidas pela doença fatalmente mudarão com o tempo. Conhecer estes
detalhes exigirá de você, familiar/cuidador, maior observação para que, dessa
forma, seja possível um planejamento de atividades compatíveis com o grau de
dependência apresentado pelo portador. • Mantenha a comunicação: com o
avanço da doença, a comunicação entre você e o portador pode tornar-se mais
difícil. As seguintes dicas poderão ajudá-lo:
– tenha certeza de que a atenção do portador não está sendo prejudicada por
outros fatores;
– fale clara e pausadamente, frente a frente e olhando nos seus olhos;
– demonstre amor através do contato físico;
– preste atenção na linguagem corporal – pessoas que perdem a comunicação
verbal, comunicam-se muito com os gestos;
– procure identificar as lembranças ou palavras-chave que podem ajudá-lo a
comunicar-se efetivamente com o portador. • Use artifícios de memória: para
alguns portadores, o uso de artifícios de memória pode ajudá-lo a lembrar de
ações cotidianas e prevenir confusões como, por exemplo: mostre fotografias dos
familiares com seus nomes para ajudá-lo a reconhecer quem é quem no ambiente
familiar, coloque placas indicativas nas portas identificando o quarto, o
banheiro, etc. Lembre-se, porém, que com o avançar da doença estes artifícios
não mais terão o resultado esperado.